quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Prelúdio da tempestade.


Estávamos nós dois no parque. O lago nos brindava com o reflexo do céu mais azul e limpo que, sempre infinito e constante, pairava sobre nós, observando tudo com sua calmaria incomensurável. A grama baixa e verde-esmeralda sustentava o peso de nossos corpos e da nossa conversa, sem reclamar, exatamente da mesma forma que eu carregava na minha mente e nas minhas costas tudo que sentia por ele, por aqueles olhos e por aquele coração tão gentil e acolhedor.

— Por quê? — A pergunta dele aniquilou o silêncio como um raio que corta os céus, o prelúdio de uma tempestade devastadora.

Senti minhas maçãs do rosto, sempre com aquele branco marmóreo, ficarem mornas e enrubescidas.

— Por quê? — Repeti para mim mesma mentalmente enquanto morava nos olhos dele, perfeitamente castanhos e cientes do que estava acontecendo.

O tempo andava insanamente devagar. Cada segundo que eu me perdia no olhar eternamente doce e tranqüilo dele era como um milhão de facas, espadas e lanças perfurando meu coração. Eu não sabia como seria dali em diante.

— Por favor…

— Por favor, não fale mais. — Pedi.

A voz rouca e preguiçosa dele ecoava na minha mente, ocupando cada mínimo espaço que eu tentava reservar para os meus pensamentos, antes que eu enlouquecesse. Eu estava ficando sem defesas.

Bateu um vento. O perfume da pele dele, que tanto agradava aos meus sentidos, me dominou por completo. Fiquei, naquele momento, deliciosamente entorpecida.

Ele me estudava, tentando sondar minha expressão que, imagino eu, era indecifrável. Meu olhar estava fixo no espelho d’água a nossa frente, que assistia a tudo sereno e emudecido.

Começava a entardecer. O sol lançou sobre nós seis raios alaranjados à medida que o céu começava a ficar tingido de púrpura. O tempo passava de forma sutil, nos envolvendo em seus amplos e maternos braços, mostrando que não era nosso inimigo.

Vi-me perdida novamente no espaço infinito e abstrato ao qual aqueles olhos de sol intenso davam lar. Eles estavam estáticos também, beijando os meus com sua beleza fulgurante. Convidavam-me a penetrar na mente dele e de lá fazer parte permanentemente. Exatamente como eu queria.

Abaixei meu escudo, sempre tão forte e intransponível, e me deixei levar de uma vez por todas. Depois disso, o tempo arrebentou, sem pensar, as grossas correntes que o estavam prendendo e correu com uma velocidade furiosa e intensa, como um leão que avança instintiva e ferozmente ao avistar sua vítima indefesa.

O céu tomou um tom rosa-perolado e laranja morno. O vento era prateado, leve e fresco. A relva ficou ainda mais verde e macia. Tudo a nossa volta girava freneticamente e ficava mais vívido, mais real. A própria realidade parecia se curvar para nos abraçar e proteger. A natureza dava sinais de aprovação e satisfação.

Ele havia me beijado.

13 comentários:

  1. tipo muuuuuito fofo, já tinha lido <3

    ResponderExcluir
  2. alok, muito bom, amei amei *-*

    ResponderExcluir
  3. É impressionante o poder que tu exerce em cima das palavras, sério. Dois textos e eu já me apaixonei! Muito Lindo o teu texto, parabéns mesmo :)

    ResponderExcluir
  4. nooossa, você escreve muito bem! tô seguindo... Me arrepiei com a historia, você deu perfeição aos detalhes e consegui imaginar tudo, perfeitamente.
    Realmente impressionante.

    ResponderExcluir
  5. Sempre surpreende mais Ga. Parabéns. Linda história. :D

    ResponderExcluir
  6. nossa, que sinestesia deliciosa. É tudo tão perfeitamente detalhado, descrevendo algo tão simples, que para a maioria é indescritível. Palavras bem usadas podem fazer 'milagres'. (':

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  8. Nhom, adoro esse texto <3 Ja tinha visto no seu outro blog mas nem tinha te contado dusifhdsouah

    ResponderExcluir
  9. a perfeição dos detalhes descrevendo algo tão sutil como um beijo pôde expressar exatamente tudo que alguém gostaria de descrever sobre como é amar.
    e tu o fez ♥.

    ResponderExcluir