terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Post duplo!

Como vocês são uns queridos, vou publicar hoje dois textos. Sintam-se livres para comentar ambos, um só, ou nenhum, se preferirem! Haha, vocês que mandam aqui<3 E obrigado mesmo pra todo mundo que lê e comenta os textos, vocês são demais!



Canteiro dos raios etéreos


Sinto-me seguro quando a luz pálida da manhã vem invadir meu canteiro de abóboras. Acomodo-me ao lado do poço que tem ali perto e assisto o sol tomar posse do céu, reivindicar seu território. E então, sou envolvido por seus raios que me acalentam; raios mornos e com cor de sem-cor; raios suaves e etéreos como a fumaça que exala do café que bebo enquanto a aurora me embala.
Assisto às abóboras despertarem junto com o dia, com seu laranja-vivo, sempre paradas, sem reclamar de calor ou frio, claro ou escuro. E faço como elas: deixo-me levar pelo dia, observando a penumbra e as pesadas sombras e mágoas da madrugada irem embora.
De repente, sem aviso nenhum, vem uma nuvem e cobre meu sol. É a única situação em que as abóboras parecem se debater. A impiedosa nuvem leva embora meus raios de conforto, meu cobertor invisível de todas as manhãs.
Meu café fica amargo, o vento passa do ameno para o frio e cálido. Meu abraço etéreo de todos os dias evanesceu no ar.
Traga de volta minha proteção incorpórea. Também as abóboras a querem.



Castelo constante

Desempacoto livros velhos e assopro a poeira deles. Memórias faiscantes de histórias intensas tomam posse da minha mente.
As palavras são meu castelo, sejam elas escritas por mim ou pelos outros. E meu castelo é onde me sinto seguro para ser eu mesmo.
Eu existo nas palavras.

Pote de abelhas.

Minhas forças estão me deixando. Sinto que preciso de alguém pra me tirar dessa casa não, preciso que tirem essa casa de mim.

Já não sei mais o que quero, se quero ou por quê quero. Sei que quero algo. Não que esse algo tenha nome, e se o tem, ainda não descobri.

Só sei ainda o que é a luz do sol porque ela penetra sorrateira e sutil pela minha janela durante o dia. Mantenho-me preso aqui talvez por vontade própria, admito , mas a vontade de sair para o vento está me consumindo e definhando de dentro para fora. Como um enxame de abelhas furiosas dentro de um pote. Não um pote de vidro; um pote de papelão: frágil e rasgável. As abelhas se agitam e se agitam, mas o pote está lacrado com grossas camadas de fita isolante.

Um dia elas sairão, pois sua força detonará o pote. Exatamente como minha essência quer estilhaçar meu corpo e ser livre para perambular por aí.

Romper o invólucro invisível que me mantém encarcerado e acorrentado. Isso é o que eu quero. Tirem essa casa de mim.